Diretor da Primax publica artigo no Valor Econômico

Investimentos do governo nas estradas são insuficientes

 

 

Dos R$ 730 bilhões de investimentos, projetados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) entre 2009 e 2012, menos de 5% (o correspondente a R$ 28 bilhões) serão injetados no transporte rodoviário. No cenário para período 2009-2012, intitulado "Perspectivas para a Economia Brasileira", apresentado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, as ferrovias atrairão a maior parte dos investimentos do segmento dos transportes, com nada menos que R$ 37 bilhões; enquanto os portos terão R$ 8 bilhões.

 

Petróleo, gás e a construção de usinas elétricas mereceram grande destaque. Juntos, vão consumir R$ 406 bilhões, 55,61% do total dos R$ 730 bilhões a serem investidos até 2012.

 

A situação do transporte rodoviário, embora não pareça, é muito preocupante e oferece perigos. Com 1,7 milhão de quilômetros de estradas, dos quais aproximadamente 10% são pavimentados, o Brasil tem a terceira maior malha rodoviária do mundo. Segundo a pesquisa mais recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), feita em 2007, 73,9% das estradas brasileiras foram classificadas em "condições precárias".

 

O desenvolvimento da infraestrutura logística brasileira se expandiu de forma mais significativa a partir do século XIX, entre os anos de 1850 e 1940, quando foram construídas importantes rodovias e ferrovias. Grande parte devido à prioridade dada pelo governo na construção de estradas (década de 20), houve incentivos às empresas automobilísticas (década de 60) e subsídios aos preços dos combustíveis.

 

Dessa forma, o retrato da matriz de transporte brasileira revela o modal rodoviário como a principal via de escoamento das cargas brasileiras, respondendo por 61%, segundo dados da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT). As ferrovias participam desse ranking com 20,7%; o sistema aquaviário com 13,6%; o dutoviário com 4,2%; e o aéreo com 0,4%.

 

Mesmo com o impulso inicial do governo, o transporte rodoviário de cargas precisa desatar os nós que amarram o desenvolvimento do país atualmente, como a falta de novos investimentos e a manutenção das vias existentes (sem a gestão privatizada); baixo preço dos fretes; pouca regulação do setor e perdas de cargas durante o transporte, causadas principalmente por roubos, acidentes e avarias durante a movimentação.

 

Em função das más condições das vias e do incorreto acondicionamento das cargas nos caminhões, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) mostra que o prejuízo causado pela perda de grãos durante o transporte rodoviário, chega a R$ 2,7 bilhões por safra, o que equivale a 10 milhões de toneladas de carga perdida.

 

Às vésperas da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, e da Olimpíada, em 2016, no Rio de Janeiro, o governo, que saiu rápido da crise financeira global, sonha alto. Sobram planos na prancheta. A prática, porém, deixa a desejar.

 

O ritmo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) evolui, infelizmente, a passos de tartaruga, com cronogramas atrasados e o orçamento estourado em várias regiões. O país avança pouco no desenvolvimento de sua infraestrutura logística.

 

Problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU) e com a área ambiental não foram os únicos. Houve complicações na modelagem financeira de alguns empreendimentos, como a Nova Transnordestina, que atrasaram o cronograma original. Além disso, o orçamento de vários projetos acabou inflado. Isso ocorreu mesmo em investimentos executados majoritariamente pela iniciativa privada.

 

O estudo "O PAC e a Infraestrutura Logística no Brasil", realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) e divulgado pelo professor Paulo Fleury, conclui que o Brasil tem uma das piores infraestruturas de logística entre os países do Bric, Estados Unidos e Canadá.

 

Segundo o levantamento, o Brasil está na última colocação em rodovias pavimentadas, por exemplo, com 212 mil quilômetros, ficando atrás do Canadá (516 mil quilômetros), Rússia (655 mil quilômetros), Índia (1,5 milhão de quilômetros), China (1,5 milhão de quilômetros) e Estados Unidos (4,2 milhões de quilômetros).

 

O orçamento do Ministério dos Transportes deste ano mostra que, até julho último, do total do investimento autorizado de R$ 11,3 bilhões, só foram pagos R$ 3,8 bilhões, conforme levantamento da equipe da CNT em dados oficiais.

 

A arrecadação da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), que atualmente é cobrada sobre a comercialização da gasolina (R$ 0,23/litro) e diesel (R$ 0,07/litro), acumulou, desde sua entrada em vigor, em 2002, até o mês de julho último, R$ 53 bilhões, mas apenas 39,5% desse montante foram destinados a investimentos em transportes. Esses dados, apurados pela assessoria econômica da CNT mostram, na prática, que a maior parte dos recursos arrecadados pela Cide - correspondentes a R$ 32 bilhões - foi desviada de sua finalidade.

 

Mesmo assim, acredito que Washington Luís, ex-presidente do Brasil, que se notabilizou em 1926 ao emplacar a frase "Governar é abrir estradas", ficaria orgulhoso de seu projeto dos tempos da República Velha. Deposto pela Revolução de 30, o então presidente governava, em 1927, com uma frota de veículos minúscula - 93.682 automóveis e 38.075 caminhões.

 

Se o Brasil quiser acelerar seu ritmo, precisará de cadeias intermodais, ou seja, todos os modos de transporte usados integrados de forma racional em uma única cadeia logística, cada um contribuindo com o que tem de mais vantajoso para superar seus gargalos.

 

Precisará, também, ampliar enormemente a malha rodoviária pavimentada e construir novas estradas em corredores estratégicos para o transporte de riquezas. Para o investidor externo representamos uma oportunidade de bons negócios. Por que não capitalizar o país para recuperar nossas estradas abandonadas ?

 

Antônio Luiz Leite, diretor presidente da  Primax Transportes Pesados e Remoções Técnicas

 

 

 


Data: 06/11/2009
Fonte:Valor Econômico